Aí, um dia, você descobre que odeia sapatos. Fechados. Apertados. Ainda não consigo andar por aí descalça mas, definitivamente, não existe nada melhor que as famosas havaianas.
Movimento abaixe os saltos! Como pude, aos 15 anos, usar sandálias altas para andar de ônibus? E o salto agulha, posso saber que foi que os inventou? São lindos! Na vitrine... Nos meus pés, um esmalte vermelho e uma tornozeleira de florzinha. Nada mais.
Esses dias, fui fazer uma escova básica no cabelo. Tamanha minha surpresa quando percebi que não me lembrava mais como é que faz. Como eu conseguia ter tanta prática nos movimentos e na posição entre a escova e o secador? E de onde surgiu tanto cabelo assim para secar? Achei que tinha cortado pela metade..
Outra coisa, e aparentemente uma troca saudável, foi substituir a maquiagem pelo protetor solar. Já não sei mais dizer se fico sexy nas fotos mas, ultimamente, ouvir meu marido dizer que estou linda tem sido suficiente.
A Austrália faz isso com as pessoas. A gente chega aqui cheia de brilho - uma tonelada de progressiva na mala, sapatos de todas as alturas, cores, formatos, vestidos de babado, sem babado, curtos, longos, "chegueis", bufantes, acessórios para todo o tipo de ocasião. E aí, quando menos percebemos, estamos trabalhando de chinelo, buscando o café na padaria de pijama e indo ao supermercado com uma canga amarrada na cintura... No meio da cidade, diga-se de passagem. Enquanto isso, a mala ainda permanece pela metade. Intacta. Na garagem. Empoeirada.
Não sei se estou certa ou errada ao assumir meu lado hippie, mas aqui isso não tem feito muita diferença. Mesmo de camiseta, bermuda e cabelo pra cima num coque, ainda sou considerada muito "dressed-up" para os padrões australianos.
Acho que ainda não sou 100% capaz de morar numa barraca, tomar banho em banheiro público e caçar meu próprio jantar. Mas confesso que abro um largo sorriso e encho os olhos de brilho toda vez que penso no dia em que finalmente poderei trocar o "casual professional look" pelo tão desejado biquíni.
